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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Pivô Rodrigo Bahia pensou em abandonar a carreira


Um jogador de extrema capacidade técnica, mas prejudicado por uma série de contusões. O pivô Rodrigo Bahia, um dos prediletos da torcida da Winner, abriu seu coração em uma entrevista exclusiva ao Painel Esportivo, publicada pela Gazeta de Limeira no dia 13 de janeiro de 2008.
Ele contou detalhes de sua vida e confidenciou que pensou até em parar de jogar basquete para se dedicar a vida de personal trainner. "Foram Deus e a minha família que me fizeram retornar às quadras", comentou.

Rodrigo Bahia tem um gênio forte, é explosivo e sempre quer ganhar. Chega até ser violento às vezes com o adversário. Fã do jogo de contato no garrafão, o atleta foi um dos melhores do Campeonato Paulista de 2007, mesmo atuando da metade da fase de classificação para frente.


Fora de quadra, reúne duas excelentes qualidades, que são completamente diferentes uma da outra. Ao mesmo tempo em que é brincalhão, o gigante de 2m03 e 115 kg é sério quando o assunto é a carreira e o companheirismo. "Não tenho pápas na língua mesmo. Sou autêntico o tempo todo e detesto fazer igrejinha. Se tiver que falar algo para alguém, falo na cara e não deixo para depois", afirmou.

Bahia sabe que foi popular em Limeira e que teve a preferência da torcida ao lado de Telmo, o "Deus da Raça", dispensado ao mesmo tempo que ele. "A minha volta em 2008 provou que eu ainda tinha muito a dar aos limeirenses. Sei que os torcedores gostavam de mim e por isso procurava retribuir esse carinho com pontos e luta no garrafão", salientou.


E o pivô sabe mesmo o que está falando, pois todas as cestas que marcava, seja no Ginásio Vô Lucato ou no Poliesportivo do Nosso Clube, ele abria aquele sorriso e apontava o dedo para as arquibancadas. Rapidamente seu nome era ovacionado, lhe dando ainda mais força. "Ouvir o seu nome em coro é sinal de que você está fazendo um bom trabalho", frisou.

O que ele não gostava mesmo era de sair do jogo, ainda mais quando recebia faltas. "Tenho sangue quente e por mim eu jogo os quatro quartos. É por isso que ficava nervoso quando saia. Quero sempre brigar pela posse de bola", confidenciou.

Cirurgias atrás de cirurgias

O pivô passou por seis cirurgias, sendo uma no joelho direito e as outras cinco no esquerdo. Ele se apresentou ao técnico Zanon no dia 1º de julho de 2003 e disputou a Copa EPTV de São Carlos. Acontece que logo em seguida, sofreu uma grave contusão. Participando da abertura do Torneio Início em Araraquara, o pivô rompeu o ligamento cruzado do joelho direito na partida contra o Conti/Assis. "Vi meu mundo desabar naquele momento, pois tinha acabado de chegar. Era minha chance de provar que o meu lugar era no basquetebol paulista", lembrou.

O atleta viveu um dos momentos mais difíceis de sua carreira até ser operado pelo doutor Terréri, em Ribeirão Preto, um dos melhores do país. "Graças a Deus a cirurgia foi um sucesso. Tinha a confiança no médico por ele trabalhar também no COC, minha ex-equipe. Todos tinham um carinho muito especial por mim em Ribeirão Preto e por isso sabia que tudo daria certo", justificou. Foram mais sete meses de recuperação e o fim do sonho de participar do Paulistão de 2003. "Assisti todos os jogos da Winner das arquibancadas do Vô Lucato. Não tem coisa pior, pois queria mesmo era estar lutando com meus companheiros dentro da quadra", salientou.

Retorno às quadras


Aos poucos o pivô foi voltando às suas atividades normais. Horas e horas foram dedicadas às sessões de fisioterapia, até a liberação do Departamento Médico no mês de maio de 2004. O retorno aconteceu mais precisamente no dia 28, no segundo confronto contra o XV de Piracicaba pelas quartas-de-final do Torneio Novo Milênio. "Me senti uma criança que tinha acabado de ganhar um presente. Não via a hora de voltar a jogar. O tempo de recuperação é triste e sofrido", destacou.

A recompensa veio logo em seu primeiro contato com a bola. "Acertei um arremesso dos três pontos. Isso é raro na vida de um pivô. Olhei para o banco de reservas e vi todos me aplaudindo em pé e ao mesmo tempo sorrindo. Desse momento eu jamais me esquecerei", lembrou.
Para fechar com chave de ouro a sua volta, a Winner venceu o time piracicabano por 99 a 73, em partida disputada no Poliesportivo do Nosso Clube. Bahia não voltou a sentir mais dores no local e jogou até o fim do campeonato que, terminou com a Winner em segundo lugar, com o Conti/Assis, do infernal Arnaldinho, sendo o campeão.

O que Bahia não esperava era uma nova lesão, que aconteceu no dia 24 de janeiro de 2007, agora no joelho esquerdo. "Precisei corrigir uma cirurgia mal feita no passado, mas esse assunto eu prefiro não comentar. O doutor Moisés Cohen, referência na medicina esportiva, praticamente reconstruiu o meu joelho e hoje graças a Deus posso jogar. Convivo com as dores todos os dias, mas minha força de vontade é maior do que elas", destacou na entrevista.

Muita dedicação


A dedicação caminhava lado a lado com o pivô. Nas horas de folga, Bahia procurava aprimorar a parte física, um de seus pontos fortes. O jogador se formou em educação física pelas Organizações Einstein e após operar em 2007, virou personal trainner na Companhia Athletic, em São Paulo, uma das academias mais respeitadas do Brasil.

"Mesmo adorando o basquete, estava mesmo propenso a mudar de profissão. Fui obrigado a vender meus bens para pagar os quase R$ 40 mil que gastei na última cirurgia, inclusive passei a andar a pé. Para conseguir o meu sustento na capital, passei a trabalhar. Por outro lado senti que a minha família não apoiou essa minha decisão e me convenceu a voltar ao basquete. O próprio Dr Cohen me aconselhou a voltar e me deu algumas orientações, para que eu não voltesse a me lesionar. Como sou um cara que gosto de ouvir as pessoas ao meu redor, principalmente aquelas que gostam de mim, senti que era o momento certo de retornar", explicou.

Além de tudo, era um torcedor


Rodrigo Bahia contou que mesmo se recuperando da cirurgia, não perdia um jogo da Winner, principalmente em Limeira. "Gostava de ver o interesse dos torcedores. A todo momento eles pediam a minha volta e queriam saber se eu estava bem. Isso me deu confiança e prazer", frisou.
Após dois meses de cirurgia, ele foi assistir Paulistano e Winner, em São Paulo.

"Quando entrei andando normalmente no ginásio, sem mancar e sem muleta, o Cássio Roque foi até a minha direção para saber o meu estado. Disse que estava bem e ele então me convidou para voltar a vestir a camisa da Winner. Acontece que eu precisava de mais alguns meses de fortalecimento muscular e ele entendeu. Com seis meses de cirurgia eu acompanhei o Torneio Rosa Branca em Limeira e acertei o meu retorno para o mês de outubro. Isso me motivou e me trouxe a alegria de volta. Eu estava sozinho em São Paulo e de repente eu vi tudo voltar ao normal. Agora sim eu era o Rodrigo Bahia dos desafios permanentes", disse.

Em 2004, no vice do Paulista (derrota para o COC), ele foi escolhido o melhor pivô do campeonato e foi premiado na FPB. Em uma de suas entrevistas em Limeira, Bahia fez questão de elogiar o amigo Telmo. "Gostamos de usar toda a nossa força. Admiro a sua raça e o espírito de liderança. Somos loucos por rebote e no ataque é difícil nos parar", frisou.

Vida em Salvador

Nascido em Salvador na Bahia no dia 23 de outubro de 1979, Rodrigo iniciou sua carreira na Associação Atlética Bahia, até se transferir para o basquetebol paulista. Jogou no Sport Club Corinthians Paulista, no Marathon de Franca, no COC/Ribeirão Preto, no Uniara de Araraquara e no Flamengo do Rio de Janeiro, até voltar a São Paulo para defender a Winner.

"Quando defendi o Mengão contra a Winner, senti que um dia eu jogaria em Limeira. Fiquei feliz quando assinei meu primeiro contrato", afirmou. No seu tempo de Winner, Bahia não sonhava mais com a Seleção Brasileira. "Defendi o Brasil em categorias de base e queria chegar no topo, mas fui prejudicado com essa série de contusões", completou.



Pena que com a eliminação para o Conti/Assis, nas semifinais da 1ª Supercopa de Basquete, Bahia teve seu nome incluído na lista de dispensa.

Rodrigo Bahia pela Winner:

1.803 Pontos
182 Jogos
9,9 Média